Editorial

Revista Brasil Literario
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Gostaria de dispor de recursos para construir uma História da Imprensa Literaria, sobretudo brasileira, desde os aspectos documentais até aos tecnológicos. Mas seja por razões práticas ou intelectuais, as condições dadas me impedem de fazê-lo a contento, tanto quanto o tema merece. Por isso vejo-me limitado a ter de ir fazendo um levantamento fragmentário, inclusive festejando cada detalhe que encontro.
Por exemplo, fico até emocionado com as palavras do nosso poeta maior, Carlos Drummond de Andrade, ao falar sobre as revistas literárias do seu tempo, 
mesmo que isso seja apenas uma expressão carinhosa, sem os dados formais nem estéticos de nenhuma,
mas apenas o fato de se tratar de uma pessoa de sua envergadura, já por si só representa um documento. Por exemplo, fique bastante comovido ao encontrar o PROJETO MEMÓRIA...http://www.projetomemoria.art.br/drummond/vida/as-revistas.jsp , 
com algum material arquivado a serviço da pesquisa. e não resisti em copíá-lo devido ao medo de ninguém ir até lá consultar:
(...
Essas revistas, lidas, relidas, alisadas no excelente papel couché, fizeram minha iniciação literária, muito imperfeita mas decisiva. Guardo até hoje visualmente de cor, por assim dizer, páginas e páginas das duas. Sei a posição das gravuras, os títulos das matérias. 1
Drummond, Tempo vida poesia
As revistas foram fundamentais para a formação literária de Carlos Drummond de Andrade, ainda menino. As primeiras leituras foram feitas nas páginas coloridas das publicações vindas principalmente do Rio de Janeiro e de São Paulo. Nessas revistas, o escritor conheceu a literatura consagrada à época: os últimos resultados de um simbolismo já enfraquecido, os sonetos do aclamado Olavo Bilac, narrativas de aventura. As publicações vindas dos grandes centros culturais do País não apenas instigavam o prazer da leitura; representavam também a saída doisolamento e da monotonia da vida interiorana.
As leituras infantis gravaram-se na memória de Carlos Drummond de Andrade, por seus temas, pelo prazer propiciado de se ir além da árida paisagem itabirana, pelas formas e cores das páginas ilustradas. Quando adulto, Carlos tornaria uma delas em especial parte importante de sua obra: a narrativa de Robinson Crusoé, lida nas páginas em quadrinho da O Tico-Tico. A ilha e o náufrago seriam, já no livro de estreia, a imagem mais marcante da oscilação entre comunhão e isolamento na obra do escritor.
Não apenas na poesia e na prosa, as revistas participam desse movimento de expansão e retraimento. Graças a esse gênero de publicações, Carlos Drummond de Andrade rompeu o círculo estreito a que estava restrito em Belo Horizonte. Em princípios da década de 1920, o escritor já publicava seus primeiros textos em importantes periódicos cariocas, como Careta,Ilustração Brasileira e Para Todos.
Na mesma década, em 1925, Carlos Drummond de Andrade e outros modernistas mineiros lançaram A revistapublicação de vanguarda que tinha por fim divulgar para o País as ideias do grupo de jovens intelectuais de Belo Horizonte. Mais uma vez, a imprensa periódica permitia o rompimento dos limites do estado. Na publicação, colaboraram escritores de renome nacional, como Mário de AndradeManuel Bandeira,Guilherme de AlmeidaRonald de Carvalho e Onestaldo de Pennafort. Dessa forma, o modernismo de importância nacional era atraído para Minas Gerais.
O movimento oposto, de avanço de Minas até os grandes centros culturais do Brasil, também foi realizado por Drummond: alguns de seus textos foram divulgados nas mais importantesrevistas modernistas brasileiras, algumas delas dirigidas por poetas convidados a comparecer às páginas de A revista. Por meio das publicações de vanguarda, Carlos Drummond de Andrade ia se fazendo conhecer para além de seu estado natal. Mais do que isso: participava da importantetarefa conjunta de renovar as letras nacionais. Já não se tratava de se iniciar na literatura, mas de começar nova escrita literária em um país em grande medida ainda conservador. Os resultados do diálogo com outros modernistas se fariam sentir nos novos rumos dados à literatura brasileira e à escrita de Carlos. A novidade estaria impressa em livro, em 1930, após a estreia nos periódicos renovadores.
1. ANDRADE, Carlos Drummond de. Tempo vida poesia: confissões no rádio. 3 ed. Rio de Janeiro: Record, 2008. p. 27-28. 
...)
Além disso, temos ainda um filão de pequisa imenso constituído pelos Suplementos Literários, entre os quais o maior representante de que tenho notícias é o SLMG - Suplemento Literário Minas Gerais,
Suplemento Literário Minas Gerais
Nº 1357 Diretor:Jaime Prado Gouvea
www.cultura.mg.gov.br 
Contato: suplemento@cultura.mh.gov.br 
senhor de uma das mais belas páginas de nossa história da imprensa literária brasileira, infelizmente, muito pouco ou quase nada documentada, a ponto de ter como exemplo a minha própria pessoa, que estou publicado nele em cinco edições e não existe mais sequer um só exemplar nos arquivos da Imprensa Oficial do Estado de Minas Gerais ou nas bibliotecas e em nenhum centro de documentação. Não é doloroso? 
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